ABRINDO ESTE BLOG PELA PRIMEIRA VEZ?

Prazer em tê-lo aqui. Este blog foi criado para refletir, expor, descrever e avaliar a ação da Igreja nos temas da responsabilidade social e a evangelização na igreja de hoje, usando como pano de fundo os princípios de Lausanne (1974). É nosso alvo expressar em palavras e ações o lema do Pacto de Lausanne do evangelho para todo homem e para o homem todo.
VOCÊ TAMBÉM TERÁ ACESSO A TEXTOS, COMENTÁRIOS, RESUMOS E ESTUDOS QUE TRATAM DA EVANGELIZAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL DA IGREJA. SEJA BEM-VINDO!

terça-feira, 1 de julho de 2008

IDENTIDADE DO CRESCIMENTO DA IGREJA

"A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número" (Atos 9. 31).
Pastores e líderes leigos das mais variadas denominações dos dias modernos passam maior parte do tempo preocupados com o crescimento numérico da Igreja.
Isso tem feito tais líderes assumir uma postura diferente quanto à administração do tempo e do cuidado pastoral, pois o tempo de que dispõem já não mais será, necessariamente, utilizado para o acompanhamento das dificuldades da ovelha, mas para aprimorar técnicas de crescimento, com sustentáculos nas leis de consumo de massa.
O historiador Lucas nutria grande admiração por Paulo, a ponto de fazer minucioso registro de seu ministério entre os gentios.
Em Atos 9 ele registra o conversão de Saulo, sendo que Atos 9. 31 é um sumário do momento histórico da Igreja recém-organizada por Jesus e administrada pelos apóstolos. A pergunta que levantamos é: O que levou a igreja a ter paz naquele período, conforme a descrição do texto? Há duas respostas: 1. O maior perseguidor e perturbador da ordem tinha acabado de se converter ao cristianismo e, como era de se esperar, a Igreja começou viver não só um momento de trégua, mas também de crescimento. 2. O imperador romano Calígula (37-41 DC) resolvera colocar uma imagem sua em Jerusalém e acabou distraindo a atenção dos judeus que, por causa disso, deixaram de perseguir os cristãos.
Você deve notar que neste período a igreja aproveitou seu momento de paz e avançou na evangelização do mundo gentílico, a começar pela conversão de Cornélio (Atos 10).
No sumário do crescimento da Igreja, Lucas elenca pelo menos cinco características que colocamos como as cinco características da IDENTIDADE DO CRESCIMENTO:
"a igreja tinha paz..."
1. PAZ
Agora livre da interferência de Paulo que, de perseguidor passa à posição de perseguido e, igualmente do imperador Calígula; o povo teve paz. As posturas bíblicas que devemos tomar em favor da harmonia no corpo de Cristo são preceitos que envolvem cada crente na luta pela paz. Em Rm 12. 18 Paulo diz: "se possível, quando depender de vós, tende paz com todos os homens". É certo que os quebradores da harmonia estão sempre de plantão. São os que tem sempre uma nova crítica a fazer, porém nunca uma nova ação a efetuar. Com resquícios da natureza pecaminosa, temos o defeito de valorizar algo apenas quando ele está longe do alcance. É assim com este fruto do Espírito chamado paz (Gl 5. 22), o valorizamos apenas quando o ambiente passou da harmonia a angústia e feridas causadas pelas ofensas mútuas.
Deve haver esforço continuado para que a paz seja sempre presente. Paulo diz: "esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito, no vínculo da paz" (Ef 4. 3). Diligência aponta para um cuidado ativo e perene em favor da unidade pelo vínculo da paz.
"edificando-se..."
2 - FORÇA
No período de paz registrado por Lucas, a Igreja também consolidava o cristianismo através da força mútua. É dito que a igreja se edificava. Como nos edificar mutuamente? Olhe para Efésios 4. 16: "de quem todo corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor". A edificação que consolida o nome de Cristo e sua obra no mundo, virá apenas pela cooperação entre as partes. A edificação ocorre num ambiente de amor que, conforme a linguagem de Paulo, é o vínculo da paz (Ef. 4. 3).
Não pode haver força onde não existe a preocupação com o crescimento espiritual. Veja que Paulo também utiliza os dons para serviço no desemprenho da edificação (1 Co 12 e 14) e, sem o desempenho dos dons, jamais teremos uma igreja madura e consolidada. Crentes mente vazias representam um sinônimo de uma igreja anêmica, cujo nome de Cristo será sempre pisoteado pelos homens, por causa de uma representatividade fraca.
Qual é a outra maneira para a facilitação da edificação? Ela também ocorre pelo uso equilibrado das palavras. Paulo diz: "não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem" (Ef 4. 29). A palavra torpe, no texto original transmite a idéia de um peixe em estado de putrifação. Assim é a palavra dita sem cuidado. Quando a palavra edifica? 1. Quando ela é necessária; 2. Quando transmite graça. Uma coisa depende da outra, ou seja, uma palavra só vai transmitir graça se for proferida oportunamente, por que não podemos ter a petulância de dar uma palavra sem que alguém a tenha solicitado. A palavra que edifica é a que proferimos oportunamente e sabiamente.
"caminhando no temor do Senhor"
3. SANTIDADE
Temor reverente era a característica da devoção do povo no período indicado por Lucas em Atos 9. 31. Esta é uma falha da igreja de hoje, porque desenvolveu-se um espírito que já não faz-se distinção entre estar num shopping e estar num templo. Aliás os templos de hoje já não são mais construídos para estimular a reverência e o temor nas pessoas. Quem sabe esta seja uma contribuição para que se entrem nos templos da mesma forma como se entram num hipermercado.
Mas a santidade presente na igreja daquele tempo tinha também o aspecto individual, quando cada cristão se responsabilizava por guardar-se para o Senhor, observando individualmente seus preceitos. É dito que a igreja avançava (caminhava) em santidade. Será que com tantos atrativos que trouxeram mudança social significava hoje, como a internet, as descobertas científicas, etc., não temos, sistematicamente, nos afastado da santidade? Tenho uma impressão que o crente que adentra ao templo com a mesma conduta (postura) com que vai a outros locais de acessos sociais, é o mesmo crente que já não mais cuida de sua santidade pessoal.
Eis aí o desafio para o igreja de hoje... a igreja caminhava no temor do Senhor.
"e, no conforto do Espírito Santo"
4 - Conforto do Espírito Santo
Com a constante presença do Espírito Santo que, cumprindo a ordem de Cristo que, mandaria o consolador (parácleto) os irmãos mantém uma disposição de coragem diante do sofrimento. O conforto do Espírito era parte da realização especial do ministério do Espírito Santo. Qual o crente de hoje que se mantém corajoso a ponto de se opor ao projeto de lei da criminalização da homofobia? Sustentar biblicamente que o homossexualismo e lesbianismo são aberrações da vontade de Deus para o convívio e para as relações sociais? Crentes revestidos do poder do Espírito são capazes de manter uma postura bíblica, mesmo diante de tão grande pressão social que se avoluma, girando em torno 10% da sociedade brasileira que se declara a favor ou praticante do homossexualismo.
Apenas o conforto do Espírito é capaz de nutrir em nós a coragem para viver e morrer pelo cristianismo.
"a igreja... crescia em número"
5 - CRESCIMENTO
Lucas registra o crescimento da igreja como um fato social. Parece que o crescimento numérico da igreja era uma das razões que justificavam suas pesquisas e registros acurados. Por evidência interna podemos ver sua preocupação com o crescimento por que ele registra em Atos 1. 15 o núcleo da Igreja composto de 120 pessoas; em 2. 41 ele registra 3000 convertidos e, em 4. 4 são mais de 5000 somados à igreja totalizando um número de mais de 8000 convertidos.
Concluindo, manifestamos que o crescimento se dará a partir de uma identidade autêntica da Igreja. Em outras palavras, o crescimento é do interior para o exterior. Técnicas, regras de mercado e marketing, tendências da população (ações a partir do exterior) serão inúteis para o crescimento que só Deus pode dar à sua Igreja.
Enquanto não nos preocuparmos com a manutenção da paz (harmonia), edificação (força), santidade (temor reverente particular e público) e com o conforto do Espírito (coragem para buscar uma vida plena do Espírito e para o ânimo mútuo); não veremos o crescimento que vem de Deus, ainda que vejamos um inchaço (que é sinal de doença) produzido pelo artifício humano em muitas comunidades ditas cristãs. Em outras palavras, temos aqui a verdadeira identidade bíblica do crescimento.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A NATUREZA DE SERVIÇO DA IGREJA

Se olharmos a igreja local do ponto de vista da sociologia, percebemos que ela se caracteriza como “grupo de referência” porque espera-se que seus membros se comportem de acordo com as expectativas dos demais. Mas ela também é classificada como “grupo primário”, porque entre as condições físicas para sua formação está: 1. a exigüidade; 2. a proximidade entre seus componentes e 3. a permanência nas relações. As relações sociais nos grupos primários são caracterizadas pela intimidade, informalidade e espontaneidade. Sociologia é a ciência que observa o que é constante nas relações sociais para, daí formular suas generalizações teóricas. O homem é um ser social e religioso e a leitura que os sociólogos fazem da igreja como grupo primário e de referência é importante se vista pela ótica sociológica, mas ao mesmo tempo há dimensões que se alcança no agregar do povo de Deus que nenhuma ciência humana é capaz de estudar porque foge aos limites dos fenômenos sociais, posto que transcendente. Todo grupo social deve levar em conta que as boas relações devem ser um princípio básico de organização.

Neste post vamos analisar o significado de ser igreja, atentando para as relações que vão além da conduta social. É na permanência da comunhão e na reunião pública e coletiva que queremos enfatizar nosso estudo. Por que com certa freqüência vemos o abandono da reunião e, por conseguinte, da comunhão mútua; por motivos superficiais.

Umas das bases de nosso estudo está em Hebreus 10. 25. Analisemos o contexto. Ele começa em 10. 19 e encerra em 13. 25. São conselhos acerca de vários aspectos da vida prática, bem como da fé e disciplina. Em 10. 19-39 o autor salienta que a posição do crente é aquela do novo e vivo caminho (10. 19-25), oferecendo acesso a Deus com intrepidez (v. 19) pelo sangue de Cristo. Então se pode notar que este acesso jamais se fará sem a mediação de Cristo; mas ao mesmo tempo com ousadia, pois a exortação se expressa em três etapas: 1. Nossa aproximação (v. 22); guardar-nos firmes (v. 23) e a consideração mútua para que o amor e as boas obras sejam estimuladas (v. 24). Então o povo reunido oferece: a) Devoção pessoal; b) mantém consistência e c) mantém os deveres sociais. O povo, na comunhão do Espírito faz isso: 1. Com coração sincero, 2. Em plena certeza da fé e 3. Com o coração purificado de má consciência. A palavra para estimular (gr. paroxysmon) no verso 24 é incentivar ou incitar no bom sentido do termo, ao amor e às boas obras, implicando que deve haver esforço coletivo, mais do que individual para que o amor aconteça. Não é algo que acontece automaticamente, se está claro que devemos promover o estímulo mútuo para que o amor e as boas obras aconteçam. Através de uma ação conjunta será fácil notar que se cria maior possibilidade ao amor altruísta, quando este se dá através de uma base de comunhão, ou seja, a igreja.

Então, se notamos a exortação do escritor aos hebreus no verso 24 “e consideremo-nos uns aos outros...” seguindo do alerta “não deixemos de nos reunir como igreja...”, obviamente a negligência à reunião constitui-se na falta de consideração mútua e vice-versa. E tanto a negligência em cultuar, quanto a falta de consideração com os problemas do irmão, não são menos que orgulho, por que este leva ao desprezo. Olhando para o verso 24 e 25 Calvino explica que a exortação é dirigida particularmente aos judeus, porque estavam orgulhosos por serem tidos como único povo escolhido por Deus. Pensavam que mantinham o direito exclusivo de Igreja e, quando os gentios foram inseridos no corpo, ficou notório o desconforto, a ponto de o apóstolo apelar aos judeus para que não se indispusessem com a presença dos gentios exortando “consideremo-nos uns aos outros” (v. 24) e, para reforçar seu argumento, o apóstolo exorta “não deixando de congregar-nos” (v. 25). Deus quis unir os gentios à Igreja, mas os judeus viam nisso uma afronta humilhante, a ponto de se separarem da Igreja. Na igreja de hoje, mesmo não sendo comum os conflitos de natureza étnica, nos recusamos se igualar com os que, dentro de nossa ótica, destoam de nosso estilo (às vezes medíocre) de enxergar o reino de Deus. Não levamos em conta que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mt 9. 12).
Nossa próxima base é Efésios 1. 22. No simbolismo de cabeça-corpo, vemos a riqueza da relação íntima de amor e vida entre Cristo e sua Igreja. Mas notamos que o amor aqui corre em vias de mão dupla, ou seja, tanto recebemos o amor (5. 25-33), quanto retribuímos. A retribuição se dá a Cristo em resposta ao seu amor por nós e reciprocamente, ou seja, uns aos outros (1. 5; 2. 4; 3. 19). Para a análise da difícil expressão “a plenitude daquele que enche tudo em todos”, William Hendriksen chegou à conclusão de que a igreja é o complemento de Cristo. Quer dizer: 1. Até que Cristo se una a nós, ele se considera, em certa medida, incompleto. Cristo como o esposo, se considera incompleto sem a esposa (a igreja). 2. Isto não significa diminuir um só milímetro de sua majestade e auto-suficiência. Mostra o quanto sua igreja é importante e o quanto, como seu povo, podemos nos alegrar porque sua comunhão é tão íntima com sua igreja, a ponto de seus planos eternos estarem bem amarrados ao futuro de seu povo eleito. O desprezo ao corpo vivo de Cristo representa deficiência na compreensão desta profunda doutrina.

Olhando para a natureza de serviço da igreja notamos que a dimensão total da comunhão primeiramente se centraliza em Deus e depois no próximo. Apenas a comunhão contínua com o corpo nos dará condições de perceber suas deficiências e suprir suas necessidades através dos dons. Pedro disse: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” 1 Pe 4. 10 (NVI). A finalidade dos dons é indicada por Pedro: “para servir aos outros”. Seguindo o modelo de Jesus que, como servo de Deus, “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10. 45), entendemos que a vida cristã é vida de serviço aos outros. Então será na manifestação do Espírito entre o povo (concedendo dons) que visaremos o bem de todos (1 Co 12. 7). Note o “servir aos outros” de Pedro e “bem comum” utilizado por Paulo chamando nossa atenção para o aspecto fundamental da unidade da igreja como o cenário de atuação do serviço do crente. “O aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4. 12) não é possível sem o serviço de cada crente. O método que Deus estabeleceu para nossa edificação leva em conta o serviço de cada um, já que dons são sempre para serviço (1 Co 14. 12, 26). Ignorar a reunião e a participação no corpo, será sempre sinal de egoísmo e fraqueza espiritual, porque a igreja é a agência pela qual temos a oportunidade de servir tomando consciência das necessidades materiais e espirituais de nossos irmãos, mostrando que o amor de Deus está em nós (1 Jo 3. 17). Há dois modos através dos quais o mundo enxerga Deus em nós: 1. Através de nosso sincero interesse pelas necessidades da igreja (At 2. 47); 2. E de nosso amor que vai além das palavras (1 Jo 3. 18).

Um dos propósitos que levou o escritor aos hebreus a exortar os irmãos: “não deixemos de congregar-nos” (Hb 10. 25) é, sem dúvida, o de promover oportunidade para a prática do amor mútuo e das boas obras (Hb 10. 24), como comentou Donald Guthrie “É lógico que nenhuma provocação ao amor é possível a não ser que ocorram oportunidades apropriadas para o processo de despertamento ter efeito”.[1] A igreja como coletividade reunida e na capacidade do Espírito, oferece plenas condições para mostrar que a maior marca do crente é o amor. Tomando consciência deste fato, o mundo verá a glória de Deus em nós (Jo 17. 22, 23; 1 Jo 4. 12), como disse John Stott: “é pela qualidade de nosso amor que Deus se faz visível hoje”.[2]

_________________
[1] Donald Guthrie, Hebreus, introdução e comentário, (São Paulo-SP, Vida Nova, 1991) p. 202.
[2] op. cit., p. 283.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

UMA OFICINA DE DEDICAÇÃO AO PRÓXIMO


Vera Lúcia Ventura Herzog (apresentando a dinâmica da Oficina de Artesanato e do uso do "Cada Dia" nas reuniões com mulheres do bairro)."A semente que plantamos (...), o Senhor faz germinar" (2 Co 9. 1-7).

A Oficina de Artesanato (pintura, crochê, passa fitas), nasceu juntamente com um grande desejo que esta mulher valorosa tinha em distribuir o devocionário "Cada Dia" como um meio de evangelização. Vera Lúcia Ventura Herzog (foto acima) é uma mulher de imenso valor porque aprendeu o altruísmo como o caminho excelente que o próprio Deus traçou do "amor ao próximo" (Mt 22. 39). Certo dia, duas mulheres que trabalhavam como Agente de Saúde, bateram em sua porta e, como elas trabalhavam de porta em porta, buscando diagnosticar as doenças, perguntaram à Vera se estava disposta a dar aulas de artesanato (ocupação, esta que funciona como importante veículo de terapia).

Interrogando àquelas agentes a razão de tal solicitação, a resposta foi: "Por que várias mulheres do nosso bairro estão dispostas a aprender esse tipo de trabalho manual, mas não tem ninguém para ensinar". As mulheres não apenas procuravam alguém para ensiná-las, mas ainda se dispunham a pagar pelo curso. Vera Ventura, mulher de ação desprendida, imediatamente aceitou o convite como voluntária.

Era julho de 2002, quando tudo ficou combinado que o local seria numa Colônia de Férias, próximo à casa das aprendizes. Vera colocou uma única condição: "Faço o trabalho voluntariamente, mas nossos encontros vão começar sempre com uma pequena meditação". Era seu propósito que todas as devocionais fossem feitas com o devocionário "Cada Dia" da Editora Luz Para o Caminho, sediada em Campinas-SP, dirigida pelo pastor Celsino Gama. Vera Herzog também nutria a idéia da reciclagem porque sempre optou por utilizar versões antigas do Cada Dia, já que as mensagens, além de bem elaboradas, são muito atuais. Um mês após o combinado, começaram as aulas em sua casa (a mudança de local você pode conhecer adiante), fezendo de seu próprio teto, uma oportuna agência do reino na pregação do evangelho. O método era a leitura de cada mensagem do Cada Dia, seguida de distribuição de um volume para cada mulher.

Entretanto, o Deus soberano, com seus planos inescrutáveis, permitiu que seu esposo fosse acometido de um Acindente Cárdio Vascular (AVC). Diante disso o projeto ficou suspenso por algum tempo.

Ele passou a fazer fisioterapia de duas a três vezes por semana e teve várias dificuldades oriundas da doença. Mas a pessoa que cuidava do enfermo sempre perguntava quando a oficina iria recomeçar. Foi aí que surgiu a idéia de recomeçar a oficina em sua própria casa, ou seja, por causa do problema de saúde de seu marido.

Então ela retomou a oficina quase um ano depois do primeiro início em julho de 2002. Hoje a oficina conta com 10 mulheres que recebem aulas e conhecimento bíblico através das reflexões do Cada Dia. As reuniões funcionam às sextas-feiras, sempre com devocional e oração. Contava com 15 alunas no início do projeto. Das que estão desde o início do projeto, duas são crentes de outras denominações, uma da Igreja Presbiteriana de Caraguatatuba e as demais pertencentes à Igreja Católica Apostólica Romana. As mulheres estão muito felizes pelos trabalhos em artesanato que realizam toda semana.

O projeto é uma oportunidade ríquissima para mostrar que há várias maneiras de mostrarmos altruísmo, que por sua vez funciona como poderosa ferramenta de evangelização. Vera Ventura diz que o trabalho é uma terapia para todas, além de ser meio de captar renda. Diz ainda que já planeja outro projeto, incluindo cuidados com a saúde.
C
onclui apelando a todas as mulheres que disponham sua garagem, sua sala ou cozinha, ou qualquer outra espaço últil para exercer o amor dedicado, porque a experiência é compensadora, já que muitas mulheres que chegam no projeto, acabam recebendo não apenas treinamento, mas também transformação porque toda semana são encorajadas com uma palavra de ânimo. Esta história está postada neste blog com a finalidade de motivar os que passam por esta página a se desprenderem em favor das necessidades do próximo. Por que as formas de demonstração prática do amor de Cristo, são multiformes. Graças a Deus pela existência de pessoas como a Vera Lúcia Ventura Herzog que, a despeito dos problemas que enfrenta, nunca usou tais problemas como um argumento para paralisar a ação prática do amor.

Você é mais uma pessoa a ser transformada com as histórias, informações, discussões e textos sobre as boas obras e o amor ágape na prática. Parabéns!

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sexta-feira, 4 de abril de 2008

A PAROUSIA, O JULGAMENTO E AS BOAS OBRAS

"O amor, em suma, é aquele
ato deliberado de dar-se a si mesmo pelo outro, de forma que a outra pessoa
alcance satisfação numa base constante. O amor dá; a mais rica recompensa para
ele vem quando o objeto dessa afeição corresponde à dádiva do próprio ser (...)
O aposto do amor é indiferença e não ódio” (Ed Wheat e Gaye Wheat, Sexo
no Casamento, Mundo Cristão, 1996,
p.33).

As palavras ditas pelo casal de médicos Ed e Gaye Wheat são a mais perfeita expressão do amor. Curiosa é a conclusão de que o oposto do amor não é, necessariamente, ódio; mas indiferença. Neste sentido, quantos amamos, à luz desta definição? Quão indiferente nos tornamos num mundo em que os bens de consumo se tornaram a maior fonte de busca da população? Em meio a tantas injustiças sócio-política, quantas vezes somos oprimidos na ajuda ao próximo, temendo atuar como tolos, quando o governo, debochadamente negligencia seu ofício? Àqueles que alcançaram a fonte de águas vivas e se tornaram novas criaturas, a mensagem de Jesus aparece como um alerta.

O texto diz assim: "Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. 46 E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna." (Mateus 25. 31-46).

Claramente vemos que o contexto aqui é de julgamento (parousia). As parábolas antecedentes ao texto são as das cinco moças insensatas e das cinco prudentes e a parábola dos talentos. Elas formam o contexto no qual Jesus proferiu sua mensagem escatológica do julgamento de todos os povos. Em ambas temos uma mensagem central: É preciso se preparar para a volta de Cristo, porque vai chagar o dia em que isso não mais será possível. Na parábola das cinco loucas e das cinco prudentes se destaca a necessidade de preparo, enquanto que na dos talentos a ênfase recai sobre a negligência, diante das oportunidades de fazer um talento render lucros e a recompensa para aqueles que trouxeram o lucro do potencial inicial investido.

Diante deste contexto, focamos nossa atenção no texto principal (Mateus 25. 31-46). Nele Jesus chama a atenção do seu povo quanto ao método de execução do julgamento de Deus, no último dia. Naquele dia primeirmamente seremos reunidos e, então haverá separação entre ovelhas e bodes. Uns irão para a direita, outros para a esquerda. Toda raça humana aparecerá diante dele. Aos seus eleitos que, tendo sido alcançados pela graça será dito: "Venham, benditos de meu pai, recebam por herança o reino que lhe foi preparado desde a fundação do mundo" (v. 34). Mas porque foram selecionados para as bodas? Em seguida Jesus responde: "Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes, preso e fostes ver-me". O que é isto, senão boas obras? Certamente, esta será a base sob a qual seremos julgados.

Aos bodes será dito: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (v. 41). A razão para tal reprovação vem logo em seguida e, como foi dito às ovelhas, foi falado também aos bodes, mas de forma negativa. Então a base para a condenação aqui foi a omissão em fazer o bem ao próximo.

Para suas ovelhas as palavras são de aproximação e identificação com seus ideais eternos. Mas aos bodes (os que foram colocados à esquerda), as palavras são de separação e morte. Veja como será este castigo:
1. Separação (apartai-vos de mim, malditos);
2. Associação (preparado para o diabo e seus anjos);
3. Fogo (para o fogo eterno.... que é símbolo de destruição);
4. Em acréscimo também se fala das trevas distantes.
Embora conhecessem as exigências de Deus, estes tais negligenciaram todos seus preceitos. Se tornaram indiferentes aos mandamentos e, com isso, em vez de ajudar o próximo, passaram a atrapalhar com sua falta de ação ou discriminação.

Todo bem que fazemos a um pequenino, a Jesus o fazemos. Notemos que a referência aos pequeninos refere-se aos nossos irmãos na fé, embora o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e, ao próximo como nós mesmos (Lv 19. 18) se amplie atingindo a todos as pessoas indistintamente.

O Senhor jamais deixará impune nossa falta de amor ao próximo. Fiquemos alertas porque a base para o julgamento será nossas obras. Esta é a preocupação de Jesus, enquanto mostra aos seus discípulos estas verdades do reino de Deus. Por isso nossas obras autenticam nossa fé. Neste sentido tem sido difícil achar os que fazem o bem sem a intenção de autopromoção, porque a fé tem diminuído sobremaneira enquanto chegamos ao final desta ordem atual de coisas e nos aproximamos da parousia?

É a falta de amor que tem tornado muitos em assassinos silenciosos, pois o contrário do amor é a indiferença. Por isso João diz: "Quem não ama permanece na morte. Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesma" (1 João 3. 14-15). Segundo a ótica de João, a indiferença já é um partido assumido em favor do crime, porque quem não ama, odeia e; quem odeia é assassino. Não há meio termo. Ou amamos, ou odiamos. Esta conclusão de João se cobre de uma seriedade tal, a ponto de nos inquietarmos com tanta indiferença (ódio) aos problemas nossos próximos.

Em conclusão, poderemos passar impunes à nossa frieza espiritual e humanitária quanto a Deus e ao próximo nesta vida, mas não escaparemos (uma vez que ignoramos o sofrimento do próximo feito à imagem de Deus) ao juízo final. Basicamente esta é a mensagem de Jesus neste texto trabalhado hoje. Qual tem sido seu envolvimento com o próximo? Como o levita e o sacerdote na parábola do bom samaritano, você tem visto a necessidade e passado de largo? Se a resposta é positiva, avalie a autenticidade de sua religiosidade, pois se ela não se integra à comunhão prática com Deus e amor ao próximo, então ela deve ser questionada.

quarta-feira, 26 de março de 2008

CRIADOS EM CRISTO JESUS PARA AS BOAS OBRAS
Aqueles que lêem e acompanham freqüentemente as matérias que têm sido postadas neste blog, perceberam que, como fundamento da salvação, as obras não tem qualquer utilidade. O princípio lógico e bíblico nos convence de que obras exclui graça. Ou seja, a graça não pode operar se o fundamento da salvação é aquilo que faço. Se Jesus desviou a ira de Deus, fazendo ele mesmo obra por nós, qual sentido encontro em fazer boas obras para adquirir salvação? Qualquer base para vanglória cai completamente porque (Rm 3. 27; 4. 5; 1 Co 1. 31) a salvação é um ato unilateral e monergístico de Deus. Implica em que a salvação, começo, meio e fim é de sua autoria exclusiva na inter-relação entre as pessoas da trindade.

P
or outro lado, Jesus disse: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15. 5). O princípio aqui é: 1. Permanecer em Cristo. Isto implica que nossas obras são contínuas, além de serem válidas apenas se já somos de Cristo. 2. Ele permanentemente vivendo em nós. Implica em que Cristo, tendo adquirido a vida eterna aos seus eleitos antes dos tempos eternos (2 Tm 1. 9; Tt 1. 2), passa a viver no crente através da terceira pessoa da trindade. Então, tendo destacado que Cristo está em nós e que temos plena convicção de que estamos nele, nossas obras se tornam boas obras feitas em Cristo. Por isso, elas são aceitas apenas se feitas através de sua pessoa vivendo em nós. Esta consideração é de extrema importância, a fim de que todos saibam que uma tal bondade nata em nada soma ao propósito de salvação de Deus, além desta tal bondade (intuito fidei) soar a Deus como trapo imundo (Is 64. 6). Mas o ponto em destaque é: Quem está em Cristo produz muito fruto. O genuíno fruto cristão só pode ser evidenciado através de suas obras. Ora, se o ramo está em Cristo, é inevitável que os frutos sejam resultados do caráter de Cristo, assim como, se o ramo da videira se liga genuinamente e estritamente a ela, é de se esperar muita uva. Assim como da videira esperamos uva, do cristão esperamos uma vida semelhante a que Cristo viveu, cujos frutos do Espírito são os resultados mais imediatos (Gl 5. 22-23).

Paulo diz: "Por que somos obra de suas mãos, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas" (Ef 2. 10). A Ele devemos tudo o que temos e somos e, até mesmo a finalidade da vida após a conversão é indicada por Ele. Ou seja, quanto à maneira como devemos viver, uma vez feitos à imagem de Deus, inclui também as obras que devemos fazer. Então tais obras são esperadas de nós. Deus nos criou para sua glória e as boas obras refletem sua glória em nós. Isto porque, produzir bons frutos e andar nas boas obras são sinônimos. Por isso Jesus requer de nós abundância de frutos (Jo 15. 2; 5; 8). Exatamente pelo fato de nossas obras serem aceitas em Cristo somente, fica evidente que Deus é glorificado através delas, por isso é dito "sem mim nada podeis fazer" (Jo 15. 5). Não deve ser motivo de orgulho quando brilhamos (Mt 5. 16; Fp 2. 15) no âmbito social ou espiritual, refletindo a imagem de Cristo, posto que é nele que nossas obras são efetuadas e que por nós mesmos, e de nós mesmos nada temos.

Num sentido amplo é claro que a falta das boas obras na vida cristã cai no antinomismo, ao mesmo tempo que uma visão distorcida do lugar das obras na vida, cai no legalismo (arminianismo moderno). Antinomismo é aquela cosmovisão de que o amor não segue regras. É a exclusão das regras em detrimento do amor. Mas o antinomismo é uma doença teológica que reflete a falta da compreensão do todo da Escritura, porque as regras instituídas por Deus, são a base da operação do amor. Não existe amor onde a obediência (ou submissão) não é levada em conta. Mesmo no jardim do Éden anterior à queda, a comunicação vital entre Deus e o casal Adão e Eva, era feita numa base normativa (Gn 3. 3). Portanto, por trás das regras, estava seu autor, cuja obediência numa base de amor deveria ser correspondido. Por isso, o caráter santo e imutável de Deus requer não apenas a propositura de regras, mas ainda regras como reflexos do seu caráter moral e santo. Estas prescrições são imutáveis como o caráter do Deus que as criou. Foi Ele quem estabeleceu de antemão as obras como regras que medem a extenção e a validade do nosso amor a Ele e ao próximo.

De maneira nenhuma, podemos deixar de considerar que as boas obras são instrumento poderoso de evangelização. Não que as boas obras substituam ou diminuam a eficácia da obra expiatória de Cristo, não! Mas o impacto que uma ação (tanto de testemunho autêntico, que se relaciona à nossa conduta ética; quanto de uma ação humana e cristã envolvendo amigos, vizinhos, etc.), causa vai funcionar como um gancho para a abertura de ouvidos, mentes e corações para semear a semente santa, ficando o germinar por conta da operação do Espírito (Mc 4. 20). Por que as pessoas se importam muito mais com aquilo que fazemos do que com aquilo que dizemos e, ainda que o que fazemos seja produto do que dizemos; levemos as duas coisas sempre em pé de igualdade e importância, nunca deixando o dizer entrar em contradição com o fazer e vice-versa.

Concluímos, mencionamento que as boas obras são o atestado que provam o nível de nosso comprometimento e comunhão com Deus, porque a fé sem as obras é morta (Tg 2. 17).

quarta-feira, 12 de março de 2008

QUEM É MEU PRÓXIMO, MESMO?

Meu propósito, neste post é discutir a quem nossa boa ação é dirigida? Parece uma pergunta inócua, mas você já parou para pensar que a igreja neotestametária, ainda sob a liderança dos apóstolos, conquanto tivesse uma ação social altruísta, humanizadora e abrangente; ainda assim, circunscrita apenas aos que faziam parte da Igreja visível (At 2. 45)? Ora, se cremos na palavra inspirada e, igualmente, que ela foi deixada a nós como prescrição infalível da parte de Deus e que, por ser esta a característica da palavra, devemos fazer apenas aquilo que está prescrito, é razoável a pergunta: É apropriada nossa ação social voltada para os que são estranhos à fé? Interferimos na ordem proferida por Deus através de Paulo quanto à prioridade de atendimento das necessidades básicas dos domésticos da fé (G 6. 10)?

O que dizer do apelo que o apóstolo João faz no sentido de acurdirmos os que, estando em nosso meio, precisam de suprimento para as necessidades básicas (1 Jo 3. 17)? Com base nesta elaboração do problema, gostaria de lidar com a parábola do bom samaritano em Lucas 10. 25-37 porque creio que Jesus responde tais questionamentos e, com isso, nos instrui quanto à pergunta: Quem é meu próximo?

Soa retórica esta pergunta, não acha? Entretanto, a retórica cumpre exatamente a função de mexer na nossa consciência. Ou seja, pelas minhas ações, será que já entendi, de verdade, quem é o meu próximo. Não estou, cinicamente, agindo como aquele escriba da parábola, que fez um arranjo de textos da própria palavra para justificar sua omissão?

Olhando para o contexto da parábola, notamos que a pergunta feita pelo escriba foi: Que farei para herdar a vida eterna? Perceba que Jesus ilustra seu argumento com uma parábola, cujo conteúdo é exatamente o lugar das obras na vida de alguém que pretende herdar a vida eterna. Então a vida eterna será alcançada com base nas ações? Herdar a vida está intimamente ligado, e se condiciona à condição de ser um neo bom samaritano? A lei é clara em mostrar que devo amar a Deus acima de todas as coisas e o meu próximo como a mim mesmo (Dt 6. 5; Lv 19. 18; Mc 12. 30-31) e, se ela aparece sob o Novo Testamento, como um mandamento de Jesus, obviamente, trata-se da lei do amor que jamais prescreve ou entra em decadência.

Curioso é que Jesus parece associar o fazer com o herdar a vida quando arremata dizendo ao escriba: "Faze isto e viverás" (v. 28). Precisamos entender o propósito de Jesus aqui. Note que o escriba não estava tão interessado em vida eterna, senão em testar a argumentação exegética de Cristo quanto à interpretação de Lv. 19. 18. Então ele impressiona o escrita quando lança mão da parábola. Veja: Um homem é assaltado quando vai de Jerusalém para Jericó. O percurso de cerca de 27 km era perigoso e pedregoso. Supõe-se que tal homem era judeu, embora isso não esteja claro na parábola.

Por casualidade passou por ali um sacerdote. Mas o que os sacerdotes faziam? Eram responsáveis pelos serviços religiosos do templo. Geralmente eram bem vistos pela sociedade. Qual sua reação? Indiferença. Talvez induzido pela própria interpretação da lei que impedia que o sacerdote tocasse em morto, sob perigo de impureza e, talvez fosse o caso daquele homem estar não apenas caído, mais também, morto. Neste momento a obtusa compreensão sobre o amor impediu tal sacerdote que, ao menos gritasse a fim de averiguar se se tratava mesmo de um defunto. Não seria essa nossa escusa para não ajudar o próximo sem regeneração? Indagamos: "Já tá morto. Não há o que fazer!"Às vezes vamos além, quando se trata de prostitutas, homossexual, drogados, então concluímos erroneamente: "Já cheira mal!". Erroneamente porque o amor maduro deve nos ensinar o amor ao próximo, a despeito das ações do próximo, embora tenhamos imensa dificuldade em dissociar as duas coisas. Ainda que a lei impedisse que um santo sacerdote tocasse em um defunto, o amor, muito mais que as regras religiosas, não teria condições de criar novas alternativas para aquele momento? Certamente, há muito o que se pode fazer que, meramente passar de largo sob a preconceituosa suspeita de que o transeunte está morto.

Um levita também passou pela vida em declive daquele pobre judeu (v. 32). Qual era a função de um levita? Também envolvido, de certa forma, nos serviços religiosos do templo; não se apiedou dele e, quem sabe movido por uma distância colossal entre a mera religiosidade e a lei do amor (Mt 7. 12; Gl 6. 2), passou de largo. Talvez se propunha em fazer um arranjo de argumentos frouxos com base na omissão do sacerdote. Assim como muitos de nós que, no intuito de justificar nossa omissão, relegamos as boas obras, a área social e o cuidado geral com a civilidade e a cidadania aos órgãos de governo. Entretanto, ainda que o governo tenha deveres diretos e concretos, já que os impostos que arrecada, são igualmente diretos e concretos, há elementos da fé que nutrem a esperança e o amor, cuja competência foge à natureza dos órgãos de governo e que, por sua vez não podem ser oferecidos por ninguém mais, além dos iluminados que vivem na fé.

Em seguida, outro ser humano se aproximou do homem violentado e semimorto. Era um samaritano. Por alguns séculos precedentes à vinda de Cristo, houve uma grande rixa política e cultural entre judeu e samaritano (Jo 4. 9). Esse tempo durou cerca de 800 anos, porque em 722 a. C, Senaqueribe (Sargão II), rei da Assíria, tomou Samaria e substitui seus habitantes por babilônios e sírios, com isso mudaram completamente a cultura judaica em Samaria.

Diferentente dos dois religiosos e peritos da lei anteriomente citados, este, quando fixou os olhos no homem caído, tendo passado perto dele (e não longe como os demais) imediatamente "compadeceu-se dele" (v. 33). Então passa a acudi-lo em termos práticos. Não ficou apenas na piedade aparente. Não era meramente um compadecer-se sem envolvimento ou contemplativo. Tiago lembra bem sobre o perigo de tomarmos conhecimento de necessidades de roupa e alimento de nossos irmãos e, como se nada tivéssemos com isso, mandarmos ir em paz (Tg 2. 15-17). Se esta for a atitude, certamente nossa fé é vazia. É meramente fé no conhecimento intelectual que temos sobre Deus e não no que este conhecimento gera em nós em termos de atitudes práticas.

O desfecho da parábola aponta para uma conclusão perscrutadora dirigida ao escriba. Jesus conclui: "Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu na mão de assaltantes?" (v. 36). Ele respondeu: "O que usou de misericórdia para com ele". E então as palavras finais de Jesus: "Vai e procede tu de igual modo".

Salvação pelas obras? Obviamente, não. É preciso entender o contexto. Na estreita compreensão dos escribas e judeus "próximo" não eram outas pessoas senão os de sua própria nacionalidade. O que está em evidência aqui é a questão da xenofobia ou ódio racial que, conforme retromencionado, vinha de longa data. Mas o que isto tem a ver com herdar o reino dos céus, que foi a pergunta inicial que gerou todo este diálogo?

A aplicação que Jesus esperava que os escribas fizessem era no tocante à interpretação e prática da lei. Não basta meramente interpretar a lei, segundo nossas pressuposições. A lição era esta: Se você interpretou e entendeu a lei do amor, então por que não pratica?

Não temos aqui nenhum discurso sobre a salvação pelas obras, entretanto, é óbvio que concomitamente ao chamado irresintível da graça veio também o chamado de Deus para as boas obras que foram "preparadas de antemão para que andemos nelas" (Ef 2. 10).

Como feituras de Cristo temos o dever do testemunho a todas as pessoas indistintamente. É isso que significa "meu próximo" porque "próximo" não é apenas o irmão na fé, mas qualquer pessoa, cuja necessidade presenciada gera em mim o senso do dever. Não podemos ignorar a situação como se não tivéssemos parte no assunto. Uma vez que temos conhecimento da necessidade humana ao nosso redor, não precisamos ter dúvida, quanto a quem é meu próximo, pois meu próximo é todo carente que se declare como tal ao meu redor. No mundo da tecnologia que encurta as distâncias, também deve ser considerado nosso próximo aquelas pessoas que estão longe de nosso contexto social, mas que, uma vez que de nosso conhecimento passam a fazer parte de uma necessidade do próximo que demanda nossa ação. Porque amor se mostra não apenas quando vemos de perto. É próximo todo aquele que, estando longe fisicamente, deixa transparecer por meio tecnológicos de comunicação, necessidades tão prementes e reais quanto àquelas ao meu redor.

terça-feira, 4 de março de 2008

UM BREVE HISTÓRICO

por Abner Carneiro

Em março de 2005 foi promovido um curso de liderança efetuado pelo HAGGAI (Curso de Formação de Líderes). O jovem líder, representante do Haggai em São José dos Campos tendo feito três grupos de líderes lançou o seguinte questionamento: "O que vocês sonham para esta cidade, quanto à atuação da Igreja nos próximos anos?" Um dos grupos formados era o de evangelização. O sonho de plantar uma obra visando atender crianças foi exposto neste grupo. O Pb Valter Gomes e esposa Romilda Beraldo Gomes, Pb Roberto Domingues e esposa Gledys Caixeta Domingues e Moacyr Pereira Lago e esposa Paulina Lago, membros fundadores do projeto; faziam parte deste grupo e, tão logo foi lançado o sonho por parte do Moacyr, tão prontamente iniciaram a missão. Moacyr cedeu sua residência, como num ato heróico, à semelhança do que fez a irmã Abigail Moreira Domingues, atuando na Congregação do Morro do Algodão (Caraguatatuba-SP), tornando real o sonho que nasceu quando ele esteve com populações ribeirinhas às margens do Rio Amazonas. As atividades tiveram início com 6 crianças, depois 13; no primeiro mês, 26 e, no primeiro dia das crianças comemorado, tivemos 115 crianças participando.

No final do primeiro ano, a igreja resolveu adotar aquela obra oficialmente sob sua responsabilidade transformando-a em um ponto de pregação, embora funcionando no imóvel do Sr. Moacyr. No início de 2006, sob a liderança do Rev. Abner Marcos Carneiro Rodrigues, pastor da Igreja e Renata da Cunha Rodrigues (esposa), a obra passou por reestruturação e novas acomodações e conforto foram oferecidos às crianças. Além de nova metodologia e dinâmica na aplicação do ensino. Além da criação de uma tenda própria para os 25 adolescentes que se reúnem ali semanalmente. Criou-se também um espaço para atividades lúdicas com crianças de 0-5 anos que, inclusive; muitas vêm acompanhadas dos pais.

Contamos com uma média semanal de um número que oscila entre 40 e 60 crianças, 15 a 25 adolescentes, 10 adultos, além da equipe de professores e auxiliares. Semanalmente se oferece lanche, conhecimento e formação religiosa e cultural. Os onze professores utilizam conhecimentos que receberam em treinamentos específicos, além de técnicas científicas recebidas em formação universitária. A qualificação dos professores voluntários são as de profissionais liberais, comerciantes, professores e técnicos, além de pessoal leigo.

Nosso alvo é oferecer formação religiosa, cultural e social, na esperança de formar o indivíduo qualificando-o para o convívio em sociedade. O propósito futuro é a formação e plantação de uma nova igreja presbiteriana naquela localidade, pois estamos certos de que esta é a vontade de Deus, ou seja, "fazer alunos de todas as nações" (Mt 28. 19).

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O QUE SÃO BOAS OBRAS, MESMO?

O propósito desta postagem é trabalhar com a compreensão doutrinária de boas obras, qual seu espaço e utilidade na vida cristã e, também em que sentido ela nos estimula à prática cotidiana. Conscientes de que a salvação se alcança sem mérito ou boas obras, nem sempre atentamos para o fato de que, uma vez feitos à semelhança de Cristo, igualmente "fomos criados para as boas obras preparadas com antecedência para que andemos nelas" (Ef. 2. 10). Outro fator para o qual nem sempre atentamos é quanto à verdade escatológica de que o julgamento final será com base nas obras efetuadas no mundo, através da vontade e da razão (Mt 5. 16; 16. 27; Jo 9. 4; Ap 2. 2; 2. 5; 14. 13; 16. 11; 20. 12-13; 22. 12).

Uma vez regenerados, as boas obras, necessariamente, ocupam lugar perene na luta do crente com a sociedade à sua volta. Quer nas obras que visam agradar a Deus, quer nas que visam o bem do próximo. Mas o que é boa obra? "Boas obras são só aquelas que Deus ordena em sua santa palavra, e não aquelas que, sem a autorização dela, são inventadas pelos homens que, movidos por um zelo cego, nutrem alguma pretensão de boa intenção" (CFW, Capítulo XVI, Seção 1). Então o que é considerado uma obra boa? 1. Precisa ser ordenado direta ou indiretamente por Deus, em sua palavra - Implica em completa nulidade de causa e de ação, qualquer obra inventada pelo homem, uma vez não implícita na Palavra. Entretanto, é o princípio da intenção que se leva em conta aqui. Com que intenção sou conduzido a fazer uma obra de caridade? Obviamente, toda e qualquer obra motivada pela auto-promoção cai no desagrado de Deus. Obras com intenção de alcançar favores do rumo eterno da alma, também participam do completo desprezo da parte de Deus. Nenhuma boa obra é substitutiva do sacrifício perfeito de Cristo, por isso, a intenção de salvação por qualquer ação que vise favor eterno soa como desprezível para Deus. Mas ela deve, 2. Se basear no princípio da fé e amor genuínos - Sendo que este amor e fé genuínos, cumprem sua perfeita natereza apenas se efetuados pelo homem alcançado pela redenção de Cristo. Isto porque, intrinsecamente, nenhum de nós é capaz de agradar a Deus com o melhor de nós, ainda que nobre e justo, posto que tudo que vem de nossas mãos são vistos por Ele como trapo de imundícia (Is 64. 6).

Por isso é dito: "A capacidade de realizar boas obras de modo algum emana dos crentes, mas inteiramente do Espírito de Cristo. E para que possam ser capacitados para isso, além das graças que já receberam, é indispensável que haja uma real influência do Espírito Santo a operar tanto o querer quanto o realizar, segundo seu beneplácito; contudo, não devem, por isso, tornar-se negligentes como se não tivessem a obrigação de realizar qualquer dever senão pelo impulso especial do Espírito; ao contrário disso, devem ser diligentes em dinamizar a graça de Deus que está neles" (CFW, Seção III).
Como em todas as épocas da história da igreja houve distorção extremas quanto ao espaço das boas obras na praxis e ortodoxia cristã, esta parte da Confissão de Fé não deixa de expressar a dificuldade que temos em aliar a fé, as obras e a operação do Espírito.

Não é raro encontrarmos os que relegam as obras à classificação de doutrina menos importante. Basta destacarmos que o próprio Lutero tratou a epístola de Tiago como epístola de palha por causa de sua constante ênfase na legitimidade das obras. Em outros casos as obras são preconceituosamente e erroneamente colocadas fora do contexto, quando relegadas e associadas ao arminianismo. Outro extremo igualmente perigoso é a supervalorização que leva ao ativismo. Então a agenda das ações, e não a providência de Deus nas ações, passam a ocupar lugar perene. A estrutura em torno dos projetos, se justificam pelos próprios projetos tornando-se uma finalidade última em si. O risco de arranharmos a providência e a soberania quando maximizamos as boas obras, sem dúvidas, é muito real. Posto que tendemos a prover para as necessidades palpáveis e do plano horizontal, e preterimos meios e atributos do plano vertical tais como a oração e outros meios de graça em geral.

Mas o risco mais freqüente, sem dúvida está na compreensão doutrinária quanto à dinâmica das obras. Dizia Alexander Hodge: "Não pode haver graça no coração sem as boas obras como sua conseqüência". (CFW comentada por A. A. Hodge, Puritanos, 1999, p. 302). É impossível que a graça tenha operado salvadoramente, numa vida inativa em termos dos frutos que esta mesma graça inevitavelmente produz. É óbvio, no que se refere à obra da graça, que a alma é passiva. A obra graciosa opera unilateralmente e sem qualquer sinergia; entretanto, uma vez regenerados, o cooperar ativamente com a graça para as obras deve funcionar inevitavelmente, ocupando pleno vigor até a hora da glorificação. Não há nenhuma desculpa para negar as obras que a própria graça requer do eleito, a fim de que sua própria eleição seja sempre confirmada e a omissão sempre rejeitada, já que os que sabem que devem fazer o bem e não fazem imperam no pecado da omissão (2 Pe 1. 8-10; Tg 4. 17).

Fica sem expressão qualquer argumento que se utiliza da não operação do Espírito para validar a ausência das obras, posto que deve haver cooperação com a graça provedora (e não salvadora), se o assunto se refere aos feitos do eleito e salvo. O impulso e constante habitação do Espírito foi uma promessa que se ampliou à luz do Novo Testamento, não ignorando que os crentes da velha aliança também eram salvos pelos mesmos meios ordinários e imediatos da salvação. Ora, se é dito do Espírito como sempre habitando no crente, também deve ser destacado sua constante operação no crente. Mas é igualmente certo que o operar contínuo deve contar com a constante participação do agente livre, que somos nós, a fim de que o Espírito cumpra em nós e através de nós o restante da obra planejada por Deus para a efetivação dos seus planos, no que tem a ver com a nossa participação no que foi planejado.

Desta participação ativa, precisamos sempre levar em conta que a evangelização é uma delas. Nenhum anjo foi destacado e comissionada para esta obra, a não ser os agentes humanos restaurados. Levamos em conta que a dependência absoluta da alma no operar do Espírito, tanto o querer quanto o realizar, sgundo seu beneplácito (Fp 2. 13), não nos autoriza à inaptidão. Antes o Espírito trabalha nas consciências, usando a Palavra como meio, realizando sua obra através de nossas faculdades constitucionais da razão, da consciência e da vontade.

Certamente, não devemos ignorar os efeitos dinâmicos das boas obras na vida do crente que, além de manifestar a gratidão pela salvação prometida desde os tempos eternos, e alcançada na história de vida de cada convertido; também cumprem efeitos de plena necessidade, tais como o adorno do evangelho, a glorificação do Deus eterno, o exercício na fé e certeza do crente, a edificação dos irmãos, o fechar a boca dos incrédulos e a solidificação e consolidação da vida eterna. Todos estes são chamados de efeitos dinâmicos porque a própria boa obra é dinâmica em sua natureza. Dizia A. A. Hodge: "Deus aprova não é aquele que fica a esperar pela graça, mas sempre aquele que busca e pratica sua Palavra".



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008


Neste dia as crianças receberam ensino sobre as expressões do amor. As figuras no quadro ilustram o empenho de professoras dedicadas e engajadas com a missão da Igreja.

Pb Valter Gomes, (um dos fundadores) e Renata na distribuição do lanche.

PROPÓSITO DO PACTO DE LAUSANNE
Foi exposto em termos de declaração feita na época do evento: "Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por nossos fracassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo e, por sua graça, decidimo-nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa resolução, e tornar público o nosso pacto". (Declaração feita entre os dias 16 a 25 de julho de 1974, em Lausanne, Suíça). (FONTE: Livro: John Stott Comenta o Pacto de Lausanne, ABU 1983, 61p).
  • O ESPÍRITO DE LAUSANNE
Se resume em alguns pontos:
  1. Sentimo-nos profundamente tocados pelo que Deus está fazendo em nossos dias.
  2. Ficamos profundamente arrependidos pelo fracasso evangelístico da Igreja mundial moderna.
  3. Por isso, somos desafiados à tarefa inacabada da evangelização, e este desafio não pode cair no esquecimento.

DESENVOLVA A CONSCIÊNCIA DA MISSÃO
Em João 17. 11 Jesus diz: "Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo [grifos meus], ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós". E em João 17. 18 Jesus diz: "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo" [grifos meus].
À luz destes textos, qual a missão da Igreja?
Percebemos dois princípios nas palavras de Cristo:
1. A Igreja está no mundo (v.11); 2. A Igreja é enviada ao mundo (v. 18).
Qual é nossa missão?
Deve-se destacar que toda postura que se propõe evangelizadora, mas que destoa do que Jesus ensinou deve sofrer rejeição, sem peso de consciência. É necessário que se destaque este princípio porque tendemos a inventar um grande pacote, colocando qualquer coisa dentro e, ao final chamamos isso de evangelização. Por definição bíblica, evangelização não é qualquer coisa. Então precisamos seguir o modelo de Cristo, o Senhor da Igreja e do cosmos:
Qual sua missão?
1. Jesus veio para servir (Mc 10. 45).
O alcance da obra evangelística da Igreja, depende de sua ação altruísta. Conscientes de que as duas coisas são distintas, ou seja, evangelização não é ação social; bem como ação social não é evangelização. Entretanto, a prática da igreja, deste os tempos do cristianismo insipiente mostra cristalinamente que as duas ações se complementam de tal forma que não podem se separar. Nosso maior paradigma é Jesus. Podendo comunicar a redenção ao mundo caído espiritualmente sem uso de meios, ainda assim, teve compaixão da pessoa humana vivendo num contexto histórico de plena pobreza. Ou seja, Jesus valorizou o homem na sua plenitude, com carências sociais, emocionais; além das necesidades espirituais. O serviço da Igreja é sua credencial para uma aproximação social bem sucedida. Não temos como evidenciar o valor do evangelho, senão com uma postura de igualdade e identificação com a dor, sentimento, carência e pecado do próximo. Obviamente, não defendemos boas obras como elemento de troca no sentido soteriológico, mas claramente facilitamos a comunicação e, por conseguinte, a aproximação evangelística, se estamos prontos a nos igualar com pessoas que não partilham a mesma fé que nós. É até mesmo questionável usar o termo "nos igualar", posto que, não fora a graça redentora, nenhum de nós teria o status espiritual que adquirimos, uma vez feitos filhos de Deus. É preciso salientar que, à medida que entendermos o modo do operar da graça, estaremos preparados para a identificação com crianças, adolescentes e jovens vivendo em áreas de risco social. A graça opera por mediação da palavra inspirada. Então, não se pode esperar qualquer mudança espiritual e social, se primeiramente o evangelho não for anunciado. É evidente que os incompetentes de plantão tem sempre a desculpa: Num mundo globalizado, onde a comunicação é cada vez mais tecnológica, será que eles nunca ouviram o evangelho? Querido irmãozinho, eles já ouviram o Evangelho, assim como já sabem muito sobre espiritismo, catolicismo romano, TJs, etc., mas a diferença marcante da obra que acompanha a letra, eles nunca viram ou sentiram. Por que dizer-se cristão é, farisaicamente, mais fácil do que praticar o cristianismo. Repito: A evidência prática do poder do evangelho se prova com ação (ou serviço), testemunho e vida. Se não estou disposto a cumprir a missão. Se não sou capaz de aplicar a simplicidade do evangelho interagindo com o próximo (veja: a lei levítica diz o próximo, Lv 19. 18. E Marcos diz que este é o segundo dos mais importantes mandamento Mc 12. 31, cf. Mt 19. 19); se não sou capaz de caminhar a segunda milha, Mt 5. 42; meu dever de consciência é questionar a autenticidade de meu cristianismo. Não do cristianismo em si, mas de minha visão referente ao seu alcance.

2. Jesus veio testemunhar (Jo 18. 37)
O poder deste testemunho é simbolizado por algumas metáforas muito fortes no todo da Escritura:
a. "fogo" (Jr 23. 29); b. "martelo" (Ef. 6. 17); c. "espada" - com poder para discernir as intenções da razão mais interior (Hb 4. 12); d. "semente" (1 Pe 1. 23; Tg 1. 21).
O testemunho aponta para o conteúdo e método da evangelização porque testemunhamos o poder de Deus manifestado na pessoa de seu filho, ressuscitado dentro os mortos, plenificando seu plano redentor.
Assim como foi a temática corajosa da Igreja nos seus primeiros cem anos de sua existência. Muitos se tornaram mártir porque estavam prontos a morrer por Cristo. Não morreram por uma causa, mas por causa de Cristo. Não defendemos um produto de mercado que, por causa da macificação da propaganda acabou persuadindo e inclinando a consciência coletiva ao seu consumo. Pelo contrário, dogmatizamos o poder do Evangelho como o canalizador da graça que, por sua natureza, é única na transformação espiritual que primeiramente e, secundariamente (e tão importante quanto) social e culturalmente, já o cristianismo é a religião da alma, da mente e das emoções. Ou seja, o avengelho é a resposta para o dramas espirituais, sociais e emocionais porque vive o homem de hoje. Portanto, testemunhamos o evangelho como a verade que se tornou presente em nós e que, por esta razão, ampliamos a mensagem com a ética, a mente e a ação prática.

3. Jesus viu a evangelização como sendo a prática da expansão do reino (Mt 6. 10, 33; 13. 31, 32)
Alcançamos horizontalmente todas as nações, à medida que pregamos.
4. Paulo viu a evangelização como sendo a prática da edificação do reino (Ef 4. 11-16)
Abrangendo a profundidade da expansão do reino, porque a evangelização não acontece de mente vazia.
5. Notamos a obra da evangelização como cumprimento do propósito de glorificação do nome de Deus (Sl 115. 1; Ef 1. 6, 12, 14).
Abrangendo o propósito último da atuação do homem redimido: "Gozar a Deus e glorificá-lo para sempre".
Concluindo: Temos cumprido a missão da Igreja?
Para debater: Lamentavelmente, freqüentente partimos para dois extremos prejudiciais:
1. Conformidade (quando somos influenciados pelo mundo à nossa volta a ponto de nos misturarmos e adotarmos práticas de vida pagãos - Rm 12. 1-2).
2. Afastamento (perdemos a identidade cristã quando evitamos qualquer contato com o mundo. Nos isolamos por nossa própria culpa - Leia e reflita: Jo 17. 15; 1 Co 5. 10).
Como evitar os extremos?
A única maneira é o engajamento consciente. À medida que vivemos no mundo, influenciamos através de uma mente sadia, ética que reflete o reino e com o evangelho na sua integralidade.
Questionário:
1. Ler Jo 17. 9-19 e fazer um resumo, de acordo com o ensinamento de Cristo que aí se encontra, das relações do cristão com o mundo.
2. A palavra mais exata para descrever a relação da sua igreja com o mundo seria: "Conformidade", "Afastamento" ou "missão"? (Trecho adaptado de: John Stott Comenta o Pacto de Lausanne, ABU, 1983, p. 14).




quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A IGREJA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
Qual a finalidade da ação da igreja na sociedade? Esta é a pergunta pertinente à razão da existência deste blog. Esperamos promover um diálogo construtivo e perene a respeito deste assunto. Os dois grandes temas: evangelização e responsabilidade social, foram as causas da reunião de mais de quatro mil líderes cristãos congregados em Lausanne, na Suíça em 1974. Embora, em termos de evangelização, a ação da igreja sob o século XXI ainda seja pequena, é de se pensar que grandes conflitos teológicos e práticos já estão superados. Ainda temos dificuldades com a praxes propriamente dita. No que concerne a ação social permanece atual os grandes questionamentos, a ponto de se criar as mais variadas culturas religiosas em torno desta questão no Brasil.

É mesmo, da responsabilidade da Igreja discutir e promover uma agenda visando acudir as necessidades sociais do indivíduo em plena sociedade capitalista, exclusivista e egoísta? Temos alguma parcela de dever quando se fala em parcerias com o poder público, no intento de uma sociedade mais justa, igualitária, cidadã e cristã?
Qual mesmo, é a cosmovisão bíblica neste tocante? E em termos históricos, podemos contar com os relatos de alguma religião cristã que obteve sucesso e aprovação política na tentativa de uma sociedade mais justa?

Discutir questões referentes a ação social da Igreja vai muito além de mera e simplesmente praticar (sem que haja uma reflexão e noções claras sobre motivos bíblicos e teológicos) entrega de cestas básicas, ou compra de remédios controlados para pessoas com depressão que, inclusive escapam aos cuidados das igrejas modernas.

Será preciso trabalhar bem este assunto. Creio que este blog visa este tipo de comunicação. Para se ter um idéia, não raro se vê extremos na prática eclesiástica brasileira. Nos meios eclesiáticos das igrejas históricas, quem não se lembra de alguma pitada de ditadura quando o regime militar estava em evidência na mordaçada política brasileira dos anos 60? Quando o pentecostalismo apareceu na década de sessenta, pouco se falava em dons do Espírito, batismo no Espírito, visões, revelações, etc.; mas à medida que avançou o crescimento do pentecostalismo dos anos sessenta em diante, e do neo-pentecostalismo a partir da década de setenta, as igrejas históricas começaram a rever suas opiniões e posturas éticas em relação à pneumatologia. Houve mudança substancial da pneumatologia calvinista? Nem é tanto este o caso, mas com certeza, houve profundas mudanças em relação ao modo como se tratava os conflitos em torno de pessoas com práticas diferentes das confessionais.
Em termos de sua postura social, a igreja também sofreu mudanças; ora para um extremo, ora para outro. Quem não se lembra da teologia da libertação, Leonardo Boff e da teologia da prosperidade? Como reagimos? O reacionismo, quando não bem elaborado à luz da Bíblia e do sistema confessional que adotamos e, além disso de uma hermenêutica bíblica equilibrada, segundo a coerência a que se propõe o método histórico-grmatical, pode ser um extremo tão prejudicial e herético quanto os extremos adotados pelos que seguem a prática do moldar um nariz de cera em termos hermenêuticos.

No Brasil enfrentamos dificuldades comuns a todo reduto cristão, no que refere à àrea de uma atuação responsável da igreja na sociedade. Sem pensar que o assunto Responsabilidade Social da Igreja, abrange uma gama complexa de posturas políticas, éticas, teológicas e sociológicas. Politicamente corremos o risco do envolvimento com o poder público. Então se pergunta: A igreja está preparada e, além disso, é papel da Igreja, implantar o lobby nas estrututas estatais de governo, a fim de que sua agenda seja atendida? E fora da esfera do governo, a Igreja teria alguma força para implantar projetos de grande alcance contribuindo para a diminuição da delinquência e da miséria?

Na história, a expressão da fé calvinista foi de tal atuação, a ponto da ética de um povo levar o eminente sociólogo alemão Max Weber elaborar estudos levantando as causas da riqueza do povo inglês e, posteriormente, do povo americano. Foi inevitável a tese weberiana de que a ética protestante que gerou a riqueza de um povo passou pelos simples, mas sólidos valores da economia, poupança e parcimônia na conduta puritana do século XVII e XVIII.

Como se pudéssemos vencer uma utopia, aprouvera Deus surgissem políticos e sociólogos cristãos com o ethos capaz de mudar uma geração e, até mesmo um continente, imprimindo a prática da ação cotidiana do amor ao próximo que vai além de uma milha, percorrendo hospitais, agências de emprego, indústrias, etc., na tentativa de resgatar o homem e recuperá-lo ajudando a oferecer o melhor que temos, visando o indivíduo no seu todo, embora estejamos conscientes de que apenas a generação, como obra da graça soberana, é capaz de recuperá-lo em todos âmbitos da vida.

Ademais, cabe a pergunta: Qual a finalidade da Igreja? Estritamente a igreja cumpre sua função, primeiramente na sua natureza institucional expressa em sua constituição: "A igreja (...) tem por fim prestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o evangelho, batizar os conversos, seus filhos e menores sob sua guarda, e ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, na sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo" (Segundo artigo da CI/IPB). A igreja atinge sua natureza se ela 1. Cultua, 2. Prega o evangelho, 3. Recepciona seus membros, 3. Ensina os fiéis, 4. Oferece estrutura ética, 5. Promove a fraternidade e 6. Promove o crescimento. Embora não sendo esta a sua única função, o ponto 5 "Promover a fraternidade" deve aguçar nosso pensamento, reflexão e ação. Lembro-me de alguém que sempre dizia: "Corpo sem alma é defunto; alma sem corpo é fantasta e Jesus não está interessado em nenhum dos dois". Diria que Jesus, como Senhor da Igreja e do cosmos, está interessado na plenitude da vida humana, pois escatologicamente, nos asseguramos de que o indivíduo não é ser humano se não se constitui de corpo e alma. Deus tanto tem interesse no homem na sua plenitude que o todo da Escritura nos mostra que viveremos o novo céu e a nova terra neste mesmo corpo que, sendo hoje corruptível; será plenamente transformado, mas seremos nós mesmos, plenamente homem e homem pleno. Implica em que hoje o homem precisa de atenção na plenitude de suas necessidades e não apenas somente na alma, ou somente no corpo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

ADOLESCENTES E PRÉ-ADOLESCENTES DO PROJETO

Semanalmente reúnem-se de 25 adolescentes e pré-adolescentes. Os professores se dedicam a estabelecer uma conversa aberta com base nos princípios da ética e da cidadania. Depois serão colocadas fotos com mais adolescentes...