ABRINDO ESTE BLOG PELA PRIMEIRA VEZ?

Prazer em tê-lo aqui. Este blog foi criado para refletir, expor, descrever e avaliar a ação da Igreja nos temas da responsabilidade social e a evangelização na igreja de hoje, usando como pano de fundo os princípios de Lausanne (1974). É nosso alvo expressar em palavras e ações o lema do Pacto de Lausanne do evangelho para todo homem e para o homem todo.
VOCÊ TAMBÉM TERÁ ACESSO A TEXTOS, COMENTÁRIOS, RESUMOS E ESTUDOS QUE TRATAM DA EVANGELIZAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL DA IGREJA. SEJA BEM-VINDO!

sábado, 20 de novembro de 2010

MACKENZIE E POSIÇÃO DA IPB SOBRE A HOMOFOBIA

Através deste manifesto, uso do meu direito; garantido pela carta magna, de expressar meu repúdio ao homossexualismo e a qualquer forma de ditadura que tenta proibir a liberdade de expressão. Faço uso público da razão, manifestando não apenas que sou contra toda forma de violência à pessoa humana, como expressão da imagem e semelhança de Deus, mas que também a Igreja Presbiteriana do Brasil manifesta-se contra todo tipo de discriminação, inclusive a religiosa. Manifesto que fui aluno do Mackenzie e que interagi com várias pessoas no ambiente acadêmico e, sequer de longe, presenciei qualquer vestígio de discriminação homofóbia na instituição e por parte dos professores com quem tive contato. Saliento que a decisão do Supremo Concílio da IPB quanto à homofobia, apenas usa do entendimento da Palavra inerrante e inspirada vinda de Deus e dada à humanidade como princípio de ética e espiritualidade e, que esta mesma Palavra nunca propõe ou faz qualquer apologia à discriminação, embora classifique como doença espiritual e pecado, toda forma de sodomia, homossexualismo e lesbianismo. Saliento que vou sempre fazer uso público da razão por entender que participo como cidadão de uma sociedade democrática e isonômica em tese. Manifesto que qualquer forma de repressão a qualquer pensamento, quer religioso, quer filosófico fere a Constituição, fere a liberdade de expressão e fere o cidadão brasileiro naquilo que ele tem de mais nobre - a liberdade ideológica e filosófica, assim como religiosa. Saliento que qualquer pessoa goza de plenos direitos garantidos, mais saliento ainda que ninguém está acima do princípio constitucional de respeitar posição contrária numa sociedade democrática. (ABNER CARNEIRO - pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, heterossexual).

terça-feira, 28 de setembro de 2010

MEU VOTO NESSAS ELEIÇÕES

Estamos na iminência de escolher gestores que vão administrar nosso dinheiro percebido pelo governo em forma de impostos, taxas e tarifas; além de tomar medidas nos âmbitos da educação, saúde, segurança e interferir em assuntos polêmicos, como exemplo, o projeto de lei da homofobia, a descriminalização do aborto, etc.
São áreas que nos afetam diretamente e, por isso; a ignorância proposital ou como forma de protesto assemelha-se ao suicídio coletivo. Por que ao matarmos a vontade política, damos carta branca para que políticos astutos dirijam a máquina do governo sem qualquer tipo de pressão. Sendo assim:

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam. (Arnold Tooynbe)."

Na visão calvinista de mundo, da qual somos herdeiros; não cabem o comodismo, a omissão, a ignorância e nem o egoísmo. Tanto na Genebra do século XVI quanto nos reformadores que vieram depois, havia denúncias contra os monopólios, a especulação financeira e a estocagem de alimentos diante da escassez na oferta de grãos, sendo que estas eram atitudes egoístas e avarentas por parte dos governos. Fazer política partidária não é da esfera da Igreja; entretanto, é legítimo que ela levante a voz profética quando as injustiças socias representam um ataque aos direitos adquiridos, à ética e à isonomia.

Dinte disso, arrisco alguns palpites:

Procure conhecer as opiniões políticas, éticas, morais, econômicas e educacionais do candidato.

Ideias tem conseqüências. São elas “que movem o mundo”. Ao aprovarem leis nas diversas casas legislativas, aprovam-se ideias tidas como as melhores e mais democráticas sobre os mais diversos conflitos sociais, além de se aprovarem leis como fruto de maior representatividade e pressão social.
Veja se ele tem a ficha limpa >> www.fichalimpa.org.br e avalie sua experiência política. O passado político do candidato deve ser um fator determinante para o nosso voto.

Veja se ele tem um programa de governo. Caso tenha, estude e avalie suas propostas e viabilidade.
Não é possível exercer a gestão pública sem planejamento. Se ele não tem qualquer proposta, certamente está mal intencionado. Apenas pela proposta manifestada haverá condições para futura manifestação popular, caso não as cumpra fielmente. Candidato que não possui proposta a ser avaliada, nem mesmo deveria candidatar-se, porque ninguém pode cobrar de quem nada prometeu. Mas se ele as possui, veja se elas contribuem para a construção de uma sociedade mais justa atentando para o benefício do maior número de pessoas possível.

Não vote em evangélico, meramente por ser evangélico.
Embora a Igreja seja local de salvos pela graça, não ignoramos que ela agrega também todo tipo de hipócrita e estes, como lobos na pele de ovelhas, querem conquistar votos tendo em vista o rápido crescimento das Igrejas em todo o país. Infelizmente o nome “evangélico” já não é mais sinônimo de cristão comprometido com as verdades do Cristianimo. Caso seu candidato seja evangélico saiba dele se deseja servir à sociedade, em vez de governar para evangélicos. Lembre-se que político coerente legisla a favor das causas sociais, tentando diminuir as diferenças econômicas, materiais e humanitárias da população, ainda que tenha preferência por um seguimente distinto. Mesmo que você faça opção por um candidato evangélico, sua escolha será plausível apenas se o candidato possui vocação comprovada publicamente (Confissão de Fé, XXIII, Seção II). Evalie se ele está acostumado a servir o próximo num círculo menor, pois se não se incomoda com as necessidades próximas, muito menos com as distantes.

Não subestime seu voto porque o candidato eleito não vai subestimar a oportunidade que tiver.
Alguns exercem a política como expressão de vocação, mas há muitos que apenas sonham com uma oportudade para beneficiar interesses privados ou de uma minoria, ou seja, querem fazer lobby à custa do teu voto. Faça uso do sufrágio da mesma forma como você faz um investimento. Não gastamos nosso dinheiro suado sem antes planejar e poupar e; ao investir, procuramos a melhor oportunidade com bom-senso e sensibilidade para não jogarmos dinheiro no lixo. Voto é investimento financeiro e pessoal, pois através dele delegamos aos governantes a forma como vão administrar os tributos, tarifas e taxas que pagamos pelo alimento, vestuário, bens duráveis e bens de consumo; assim como delegamos a maneira como interferem nas condições de trabalho, previdência e geração de renda e emprego. Não se esqueça que para muitos a política é um exercício de status, poder, influência e sede de dinheiro.

Não confunda homem público com sacerdote.
Nos tempos bíblicos, a esfera de soberania do Rei era distinta da esfera de ação dos profetas e sacerdotes. Um governante, ainda que ímpio, é ministro de Deus (Rm 13. 4). Ainda que lícito, a Igreja evangélica não deve esperar um governante cristão, porque ele vai governar um país e não uma religião. Basta que ele mantenha o compromisso da manutenção aos direitos fundamentais e coletivos expressos na carta magna.
Portanto, faz parte dos deveres dos que presidem, o respeito e a defesa dos pilares fundamentais da democracia tais como os direitos à vida, à cidadania, à dignidade da pessoa humana, à promoção do bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Garantindo ainda os direitos à plena liberdade de associação, à liberdade de consciência e expressão do pensamento, à liberdade de crença, à garantia do exercício de cultos religiosos, assim como da proteção aos locais de culto e suas litugias.
As garantias presentes no artigo 5o da Constituição são direitos fundamentais e, como cláusulas pétreas não podem ser modificadas. Sendo assim, não é seguro e nem legítimo que projetos de leis que firam a Constituição, sejam aceitos naturalmente.

Se hoje aceitamos abrir mão do direito de expressar opinião diversa a grupos minoritários, amanhã quais direitos fundamentais teremos que renunciar?
Embora, laico em sua natureza, deve-se observar que o Estado mantém autoridade instituída por Deus (Rm 13. 1-2), razão pela qual sua soberania não é plena e, em casos de grandes injustiças sociais e de ataques aos bons princípios morais perpetuados na sociedade, é dever da Igreja manifestar-se como a consciência do Estado. Não cumprindo seu papel de luz e sal na denúncia dos males e injustiças sociais, morais, econômicas, etc., ela torna-se co-partipante dos erros e, por sua vez, igualmente passível da justiça retributiva de Deus.

"Tudo o que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam.
(Edmund Burke)."
"Somente podemos ser mortos uma vez no combate, porém várias vezes na política." (Churchill)

Algumas opiniões de quem ama a democracia, o Brasil e a Igreja de Cristo peregrinando neste mundo.

Rev. Abner Carneiro
Igreja Presbiteriana de Caraguatatuba

terça-feira, 1 de julho de 2008

IDENTIDADE DO CRESCIMENTO DA IGREJA

"A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número" (Atos 9. 31).
Pastores e líderes leigos das mais variadas denominações dos dias modernos passam maior parte do tempo preocupados com o crescimento numérico da Igreja.
Isso tem feito tais líderes assumir uma postura diferente quanto à administração do tempo e do cuidado pastoral, pois o tempo de que dispõem já não mais será, necessariamente, utilizado para o acompanhamento das dificuldades da ovelha, mas para aprimorar técnicas de crescimento, com sustentáculos nas leis de consumo de massa.
O historiador Lucas nutria grande admiração por Paulo, a ponto de fazer minucioso registro de seu ministério entre os gentios.
Em Atos 9 ele registra o conversão de Saulo, sendo que Atos 9. 31 é um sumário do momento histórico da Igreja recém-organizada por Jesus e administrada pelos apóstolos. A pergunta que levantamos é: O que levou a igreja a ter paz naquele período, conforme a descrição do texto? Há duas respostas: 1. O maior perseguidor e perturbador da ordem tinha acabado de se converter ao cristianismo e, como era de se esperar, a Igreja começou viver não só um momento de trégua, mas também de crescimento. 2. O imperador romano Calígula (37-41 DC) resolvera colocar uma imagem sua em Jerusalém e acabou distraindo a atenção dos judeus que, por causa disso, deixaram de perseguir os cristãos.
Você deve notar que neste período a igreja aproveitou seu momento de paz e avançou na evangelização do mundo gentílico, a começar pela conversão de Cornélio (Atos 10).
No sumário do crescimento da Igreja, Lucas elenca pelo menos cinco características que colocamos como as cinco características da IDENTIDADE DO CRESCIMENTO:
"a igreja tinha paz..."
1. PAZ
Agora livre da interferência de Paulo que, de perseguidor passa à posição de perseguido e, igualmente do imperador Calígula; o povo teve paz. As posturas bíblicas que devemos tomar em favor da harmonia no corpo de Cristo são preceitos que envolvem cada crente na luta pela paz. Em Rm 12. 18 Paulo diz: "se possível, quando depender de vós, tende paz com todos os homens". É certo que os quebradores da harmonia estão sempre de plantão. São os que tem sempre uma nova crítica a fazer, porém nunca uma nova ação a efetuar. Com resquícios da natureza pecaminosa, temos o defeito de valorizar algo apenas quando ele está longe do alcance. É assim com este fruto do Espírito chamado paz (Gl 5. 22), o valorizamos apenas quando o ambiente passou da harmonia a angústia e feridas causadas pelas ofensas mútuas.
Deve haver esforço continuado para que a paz seja sempre presente. Paulo diz: "esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito, no vínculo da paz" (Ef 4. 3). Diligência aponta para um cuidado ativo e perene em favor da unidade pelo vínculo da paz.
"edificando-se..."
2 - FORÇA
No período de paz registrado por Lucas, a Igreja também consolidava o cristianismo através da força mútua. É dito que a igreja se edificava. Como nos edificar mutuamente? Olhe para Efésios 4. 16: "de quem todo corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor". A edificação que consolida o nome de Cristo e sua obra no mundo, virá apenas pela cooperação entre as partes. A edificação ocorre num ambiente de amor que, conforme a linguagem de Paulo, é o vínculo da paz (Ef. 4. 3).
Não pode haver força onde não existe a preocupação com o crescimento espiritual. Veja que Paulo também utiliza os dons para serviço no desemprenho da edificação (1 Co 12 e 14) e, sem o desempenho dos dons, jamais teremos uma igreja madura e consolidada. Crentes mente vazias representam um sinônimo de uma igreja anêmica, cujo nome de Cristo será sempre pisoteado pelos homens, por causa de uma representatividade fraca.
Qual é a outra maneira para a facilitação da edificação? Ela também ocorre pelo uso equilibrado das palavras. Paulo diz: "não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem" (Ef 4. 29). A palavra torpe, no texto original transmite a idéia de um peixe em estado de putrifação. Assim é a palavra dita sem cuidado. Quando a palavra edifica? 1. Quando ela é necessária; 2. Quando transmite graça. Uma coisa depende da outra, ou seja, uma palavra só vai transmitir graça se for proferida oportunamente, por que não podemos ter a petulância de dar uma palavra sem que alguém a tenha solicitado. A palavra que edifica é a que proferimos oportunamente e sabiamente.
"caminhando no temor do Senhor"
3. SANTIDADE
Temor reverente era a característica da devoção do povo no período indicado por Lucas em Atos 9. 31. Esta é uma falha da igreja de hoje, porque desenvolveu-se um espírito que já não faz-se distinção entre estar num shopping e estar num templo. Aliás os templos de hoje já não são mais construídos para estimular a reverência e o temor nas pessoas. Quem sabe esta seja uma contribuição para que se entrem nos templos da mesma forma como se entram num hipermercado.
Mas a santidade presente na igreja daquele tempo tinha também o aspecto individual, quando cada cristão se responsabilizava por guardar-se para o Senhor, observando individualmente seus preceitos. É dito que a igreja avançava (caminhava) em santidade. Será que com tantos atrativos que trouxeram mudança social significava hoje, como a internet, as descobertas científicas, etc., não temos, sistematicamente, nos afastado da santidade? Tenho uma impressão que o crente que adentra ao templo com a mesma conduta (postura) com que vai a outros locais de acessos sociais, é o mesmo crente que já não mais cuida de sua santidade pessoal.
Eis aí o desafio para o igreja de hoje... a igreja caminhava no temor do Senhor.
"e, no conforto do Espírito Santo"
4 - Conforto do Espírito Santo
Com a constante presença do Espírito Santo que, cumprindo a ordem de Cristo que, mandaria o consolador (parácleto) os irmãos mantém uma disposição de coragem diante do sofrimento. O conforto do Espírito era parte da realização especial do ministério do Espírito Santo. Qual o crente de hoje que se mantém corajoso a ponto de se opor ao projeto de lei da criminalização da homofobia? Sustentar biblicamente que o homossexualismo e lesbianismo são aberrações da vontade de Deus para o convívio e para as relações sociais? Crentes revestidos do poder do Espírito são capazes de manter uma postura bíblica, mesmo diante de tão grande pressão social que se avoluma, girando em torno 10% da sociedade brasileira que se declara a favor ou praticante do homossexualismo.
Apenas o conforto do Espírito é capaz de nutrir em nós a coragem para viver e morrer pelo cristianismo.
"a igreja... crescia em número"
5 - CRESCIMENTO
Lucas registra o crescimento da igreja como um fato social. Parece que o crescimento numérico da igreja era uma das razões que justificavam suas pesquisas e registros acurados. Por evidência interna podemos ver sua preocupação com o crescimento por que ele registra em Atos 1. 15 o núcleo da Igreja composto de 120 pessoas; em 2. 41 ele registra 3000 convertidos e, em 4. 4 são mais de 5000 somados à igreja totalizando um número de mais de 8000 convertidos.
Concluindo, manifestamos que o crescimento se dará a partir de uma identidade autêntica da Igreja. Em outras palavras, o crescimento é do interior para o exterior. Técnicas, regras de mercado e marketing, tendências da população (ações a partir do exterior) serão inúteis para o crescimento que só Deus pode dar à sua Igreja.
Enquanto não nos preocuparmos com a manutenção da paz (harmonia), edificação (força), santidade (temor reverente particular e público) e com o conforto do Espírito (coragem para buscar uma vida plena do Espírito e para o ânimo mútuo); não veremos o crescimento que vem de Deus, ainda que vejamos um inchaço (que é sinal de doença) produzido pelo artifício humano em muitas comunidades ditas cristãs. Em outras palavras, temos aqui a verdadeira identidade bíblica do crescimento.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A NATUREZA DE SERVIÇO DA IGREJA

Se olharmos a igreja local do ponto de vista da sociologia, percebemos que ela se caracteriza como “grupo de referência” porque espera-se que seus membros se comportem de acordo com as expectativas dos demais. Mas ela também é classificada como “grupo primário”, porque entre as condições físicas para sua formação está: 1. a exigüidade; 2. a proximidade entre seus componentes e 3. a permanência nas relações. As relações sociais nos grupos primários são caracterizadas pela intimidade, informalidade e espontaneidade. Sociologia é a ciência que observa o que é constante nas relações sociais para, daí formular suas generalizações teóricas. O homem é um ser social e religioso e a leitura que os sociólogos fazem da igreja como grupo primário e de referência é importante se vista pela ótica sociológica, mas ao mesmo tempo há dimensões que se alcança no agregar do povo de Deus que nenhuma ciência humana é capaz de estudar porque foge aos limites dos fenômenos sociais, posto que transcendente. Todo grupo social deve levar em conta que as boas relações devem ser um princípio básico de organização.

Neste post vamos analisar o significado de ser igreja, atentando para as relações que vão além da conduta social. É na permanência da comunhão e na reunião pública e coletiva que queremos enfatizar nosso estudo. Por que com certa freqüência vemos o abandono da reunião e, por conseguinte, da comunhão mútua; por motivos superficiais.

Umas das bases de nosso estudo está em Hebreus 10. 25. Analisemos o contexto. Ele começa em 10. 19 e encerra em 13. 25. São conselhos acerca de vários aspectos da vida prática, bem como da fé e disciplina. Em 10. 19-39 o autor salienta que a posição do crente é aquela do novo e vivo caminho (10. 19-25), oferecendo acesso a Deus com intrepidez (v. 19) pelo sangue de Cristo. Então se pode notar que este acesso jamais se fará sem a mediação de Cristo; mas ao mesmo tempo com ousadia, pois a exortação se expressa em três etapas: 1. Nossa aproximação (v. 22); guardar-nos firmes (v. 23) e a consideração mútua para que o amor e as boas obras sejam estimuladas (v. 24). Então o povo reunido oferece: a) Devoção pessoal; b) mantém consistência e c) mantém os deveres sociais. O povo, na comunhão do Espírito faz isso: 1. Com coração sincero, 2. Em plena certeza da fé e 3. Com o coração purificado de má consciência. A palavra para estimular (gr. paroxysmon) no verso 24 é incentivar ou incitar no bom sentido do termo, ao amor e às boas obras, implicando que deve haver esforço coletivo, mais do que individual para que o amor aconteça. Não é algo que acontece automaticamente, se está claro que devemos promover o estímulo mútuo para que o amor e as boas obras aconteçam. Através de uma ação conjunta será fácil notar que se cria maior possibilidade ao amor altruísta, quando este se dá através de uma base de comunhão, ou seja, a igreja.

Então, se notamos a exortação do escritor aos hebreus no verso 24 “e consideremo-nos uns aos outros...” seguindo do alerta “não deixemos de nos reunir como igreja...”, obviamente a negligência à reunião constitui-se na falta de consideração mútua e vice-versa. E tanto a negligência em cultuar, quanto a falta de consideração com os problemas do irmão, não são menos que orgulho, por que este leva ao desprezo. Olhando para o verso 24 e 25 Calvino explica que a exortação é dirigida particularmente aos judeus, porque estavam orgulhosos por serem tidos como único povo escolhido por Deus. Pensavam que mantinham o direito exclusivo de Igreja e, quando os gentios foram inseridos no corpo, ficou notório o desconforto, a ponto de o apóstolo apelar aos judeus para que não se indispusessem com a presença dos gentios exortando “consideremo-nos uns aos outros” (v. 24) e, para reforçar seu argumento, o apóstolo exorta “não deixando de congregar-nos” (v. 25). Deus quis unir os gentios à Igreja, mas os judeus viam nisso uma afronta humilhante, a ponto de se separarem da Igreja. Na igreja de hoje, mesmo não sendo comum os conflitos de natureza étnica, nos recusamos se igualar com os que, dentro de nossa ótica, destoam de nosso estilo (às vezes medíocre) de enxergar o reino de Deus. Não levamos em conta que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mt 9. 12).
Nossa próxima base é Efésios 1. 22. No simbolismo de cabeça-corpo, vemos a riqueza da relação íntima de amor e vida entre Cristo e sua Igreja. Mas notamos que o amor aqui corre em vias de mão dupla, ou seja, tanto recebemos o amor (5. 25-33), quanto retribuímos. A retribuição se dá a Cristo em resposta ao seu amor por nós e reciprocamente, ou seja, uns aos outros (1. 5; 2. 4; 3. 19). Para a análise da difícil expressão “a plenitude daquele que enche tudo em todos”, William Hendriksen chegou à conclusão de que a igreja é o complemento de Cristo. Quer dizer: 1. Até que Cristo se una a nós, ele se considera, em certa medida, incompleto. Cristo como o esposo, se considera incompleto sem a esposa (a igreja). 2. Isto não significa diminuir um só milímetro de sua majestade e auto-suficiência. Mostra o quanto sua igreja é importante e o quanto, como seu povo, podemos nos alegrar porque sua comunhão é tão íntima com sua igreja, a ponto de seus planos eternos estarem bem amarrados ao futuro de seu povo eleito. O desprezo ao corpo vivo de Cristo representa deficiência na compreensão desta profunda doutrina.

Olhando para a natureza de serviço da igreja notamos que a dimensão total da comunhão primeiramente se centraliza em Deus e depois no próximo. Apenas a comunhão contínua com o corpo nos dará condições de perceber suas deficiências e suprir suas necessidades através dos dons. Pedro disse: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” 1 Pe 4. 10 (NVI). A finalidade dos dons é indicada por Pedro: “para servir aos outros”. Seguindo o modelo de Jesus que, como servo de Deus, “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10. 45), entendemos que a vida cristã é vida de serviço aos outros. Então será na manifestação do Espírito entre o povo (concedendo dons) que visaremos o bem de todos (1 Co 12. 7). Note o “servir aos outros” de Pedro e “bem comum” utilizado por Paulo chamando nossa atenção para o aspecto fundamental da unidade da igreja como o cenário de atuação do serviço do crente. “O aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4. 12) não é possível sem o serviço de cada crente. O método que Deus estabeleceu para nossa edificação leva em conta o serviço de cada um, já que dons são sempre para serviço (1 Co 14. 12, 26). Ignorar a reunião e a participação no corpo, será sempre sinal de egoísmo e fraqueza espiritual, porque a igreja é a agência pela qual temos a oportunidade de servir tomando consciência das necessidades materiais e espirituais de nossos irmãos, mostrando que o amor de Deus está em nós (1 Jo 3. 17). Há dois modos através dos quais o mundo enxerga Deus em nós: 1. Através de nosso sincero interesse pelas necessidades da igreja (At 2. 47); 2. E de nosso amor que vai além das palavras (1 Jo 3. 18).

Um dos propósitos que levou o escritor aos hebreus a exortar os irmãos: “não deixemos de congregar-nos” (Hb 10. 25) é, sem dúvida, o de promover oportunidade para a prática do amor mútuo e das boas obras (Hb 10. 24), como comentou Donald Guthrie “É lógico que nenhuma provocação ao amor é possível a não ser que ocorram oportunidades apropriadas para o processo de despertamento ter efeito”.[1] A igreja como coletividade reunida e na capacidade do Espírito, oferece plenas condições para mostrar que a maior marca do crente é o amor. Tomando consciência deste fato, o mundo verá a glória de Deus em nós (Jo 17. 22, 23; 1 Jo 4. 12), como disse John Stott: “é pela qualidade de nosso amor que Deus se faz visível hoje”.[2]

_________________
[1] Donald Guthrie, Hebreus, introdução e comentário, (São Paulo-SP, Vida Nova, 1991) p. 202.
[2] op. cit., p. 283.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

UMA OFICINA DE DEDICAÇÃO AO PRÓXIMO


Vera Lúcia Ventura Herzog (apresentando a dinâmica da Oficina de Artesanato e do uso do "Cada Dia" nas reuniões com mulheres do bairro)."A semente que plantamos (...), o Senhor faz germinar" (2 Co 9. 1-7).

A Oficina de Artesanato (pintura, crochê, passa fitas), nasceu juntamente com um grande desejo que esta mulher valorosa tinha em distribuir o devocionário "Cada Dia" como um meio de evangelização. Vera Lúcia Ventura Herzog (foto acima) é uma mulher de imenso valor porque aprendeu o altruísmo como o caminho excelente que o próprio Deus traçou do "amor ao próximo" (Mt 22. 39). Certo dia, duas mulheres que trabalhavam como Agente de Saúde, bateram em sua porta e, como elas trabalhavam de porta em porta, buscando diagnosticar as doenças, perguntaram à Vera se estava disposta a dar aulas de artesanato (ocupação, esta que funciona como importante veículo de terapia).

Interrogando àquelas agentes a razão de tal solicitação, a resposta foi: "Por que várias mulheres do nosso bairro estão dispostas a aprender esse tipo de trabalho manual, mas não tem ninguém para ensinar". As mulheres não apenas procuravam alguém para ensiná-las, mas ainda se dispunham a pagar pelo curso. Vera Ventura, mulher de ação desprendida, imediatamente aceitou o convite como voluntária.

Era julho de 2002, quando tudo ficou combinado que o local seria numa Colônia de Férias, próximo à casa das aprendizes. Vera colocou uma única condição: "Faço o trabalho voluntariamente, mas nossos encontros vão começar sempre com uma pequena meditação". Era seu propósito que todas as devocionais fossem feitas com o devocionário "Cada Dia" da Editora Luz Para o Caminho, sediada em Campinas-SP, dirigida pelo pastor Celsino Gama. Vera Herzog também nutria a idéia da reciclagem porque sempre optou por utilizar versões antigas do Cada Dia, já que as mensagens, além de bem elaboradas, são muito atuais. Um mês após o combinado, começaram as aulas em sua casa (a mudança de local você pode conhecer adiante), fezendo de seu próprio teto, uma oportuna agência do reino na pregação do evangelho. O método era a leitura de cada mensagem do Cada Dia, seguida de distribuição de um volume para cada mulher.

Entretanto, o Deus soberano, com seus planos inescrutáveis, permitiu que seu esposo fosse acometido de um Acindente Cárdio Vascular (AVC). Diante disso o projeto ficou suspenso por algum tempo.

Ele passou a fazer fisioterapia de duas a três vezes por semana e teve várias dificuldades oriundas da doença. Mas a pessoa que cuidava do enfermo sempre perguntava quando a oficina iria recomeçar. Foi aí que surgiu a idéia de recomeçar a oficina em sua própria casa, ou seja, por causa do problema de saúde de seu marido.

Então ela retomou a oficina quase um ano depois do primeiro início em julho de 2002. Hoje a oficina conta com 10 mulheres que recebem aulas e conhecimento bíblico através das reflexões do Cada Dia. As reuniões funcionam às sextas-feiras, sempre com devocional e oração. Contava com 15 alunas no início do projeto. Das que estão desde o início do projeto, duas são crentes de outras denominações, uma da Igreja Presbiteriana de Caraguatatuba e as demais pertencentes à Igreja Católica Apostólica Romana. As mulheres estão muito felizes pelos trabalhos em artesanato que realizam toda semana.

O projeto é uma oportunidade ríquissima para mostrar que há várias maneiras de mostrarmos altruísmo, que por sua vez funciona como poderosa ferramenta de evangelização. Vera Ventura diz que o trabalho é uma terapia para todas, além de ser meio de captar renda. Diz ainda que já planeja outro projeto, incluindo cuidados com a saúde.
C
onclui apelando a todas as mulheres que disponham sua garagem, sua sala ou cozinha, ou qualquer outra espaço últil para exercer o amor dedicado, porque a experiência é compensadora, já que muitas mulheres que chegam no projeto, acabam recebendo não apenas treinamento, mas também transformação porque toda semana são encorajadas com uma palavra de ânimo. Esta história está postada neste blog com a finalidade de motivar os que passam por esta página a se desprenderem em favor das necessidades do próximo. Por que as formas de demonstração prática do amor de Cristo, são multiformes. Graças a Deus pela existência de pessoas como a Vera Lúcia Ventura Herzog que, a despeito dos problemas que enfrenta, nunca usou tais problemas como um argumento para paralisar a ação prática do amor.

Você é mais uma pessoa a ser transformada com as histórias, informações, discussões e textos sobre as boas obras e o amor ágape na prática. Parabéns!

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