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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O QUE SÃO BOAS OBRAS, MESMO?

O propósito desta postagem é trabalhar com a compreensão doutrinária de boas obras, qual seu espaço e utilidade na vida cristã e, também em que sentido ela nos estimula à prática cotidiana. Conscientes de que a salvação se alcança sem mérito ou boas obras, nem sempre atentamos para o fato de que, uma vez feitos à semelhança de Cristo, igualmente "fomos criados para as boas obras preparadas com antecedência para que andemos nelas" (Ef. 2. 10). Outro fator para o qual nem sempre atentamos é quanto à verdade escatológica de que o julgamento final será com base nas obras efetuadas no mundo, através da vontade e da razão (Mt 5. 16; 16. 27; Jo 9. 4; Ap 2. 2; 2. 5; 14. 13; 16. 11; 20. 12-13; 22. 12).

Uma vez regenerados, as boas obras, necessariamente, ocupam lugar perene na luta do crente com a sociedade à sua volta. Quer nas obras que visam agradar a Deus, quer nas que visam o bem do próximo. Mas o que é boa obra? "Boas obras são só aquelas que Deus ordena em sua santa palavra, e não aquelas que, sem a autorização dela, são inventadas pelos homens que, movidos por um zelo cego, nutrem alguma pretensão de boa intenção" (CFW, Capítulo XVI, Seção 1). Então o que é considerado uma obra boa? 1. Precisa ser ordenado direta ou indiretamente por Deus, em sua palavra - Implica em completa nulidade de causa e de ação, qualquer obra inventada pelo homem, uma vez não implícita na Palavra. Entretanto, é o princípio da intenção que se leva em conta aqui. Com que intenção sou conduzido a fazer uma obra de caridade? Obviamente, toda e qualquer obra motivada pela auto-promoção cai no desagrado de Deus. Obras com intenção de alcançar favores do rumo eterno da alma, também participam do completo desprezo da parte de Deus. Nenhuma boa obra é substitutiva do sacrifício perfeito de Cristo, por isso, a intenção de salvação por qualquer ação que vise favor eterno soa como desprezível para Deus. Mas ela deve, 2. Se basear no princípio da fé e amor genuínos - Sendo que este amor e fé genuínos, cumprem sua perfeita natereza apenas se efetuados pelo homem alcançado pela redenção de Cristo. Isto porque, intrinsecamente, nenhum de nós é capaz de agradar a Deus com o melhor de nós, ainda que nobre e justo, posto que tudo que vem de nossas mãos são vistos por Ele como trapo de imundícia (Is 64. 6).

Por isso é dito: "A capacidade de realizar boas obras de modo algum emana dos crentes, mas inteiramente do Espírito de Cristo. E para que possam ser capacitados para isso, além das graças que já receberam, é indispensável que haja uma real influência do Espírito Santo a operar tanto o querer quanto o realizar, segundo seu beneplácito; contudo, não devem, por isso, tornar-se negligentes como se não tivessem a obrigação de realizar qualquer dever senão pelo impulso especial do Espírito; ao contrário disso, devem ser diligentes em dinamizar a graça de Deus que está neles" (CFW, Seção III).
Como em todas as épocas da história da igreja houve distorção extremas quanto ao espaço das boas obras na praxis e ortodoxia cristã, esta parte da Confissão de Fé não deixa de expressar a dificuldade que temos em aliar a fé, as obras e a operação do Espírito.

Não é raro encontrarmos os que relegam as obras à classificação de doutrina menos importante. Basta destacarmos que o próprio Lutero tratou a epístola de Tiago como epístola de palha por causa de sua constante ênfase na legitimidade das obras. Em outros casos as obras são preconceituosamente e erroneamente colocadas fora do contexto, quando relegadas e associadas ao arminianismo. Outro extremo igualmente perigoso é a supervalorização que leva ao ativismo. Então a agenda das ações, e não a providência de Deus nas ações, passam a ocupar lugar perene. A estrutura em torno dos projetos, se justificam pelos próprios projetos tornando-se uma finalidade última em si. O risco de arranharmos a providência e a soberania quando maximizamos as boas obras, sem dúvidas, é muito real. Posto que tendemos a prover para as necessidades palpáveis e do plano horizontal, e preterimos meios e atributos do plano vertical tais como a oração e outros meios de graça em geral.

Mas o risco mais freqüente, sem dúvida está na compreensão doutrinária quanto à dinâmica das obras. Dizia Alexander Hodge: "Não pode haver graça no coração sem as boas obras como sua conseqüência". (CFW comentada por A. A. Hodge, Puritanos, 1999, p. 302). É impossível que a graça tenha operado salvadoramente, numa vida inativa em termos dos frutos que esta mesma graça inevitavelmente produz. É óbvio, no que se refere à obra da graça, que a alma é passiva. A obra graciosa opera unilateralmente e sem qualquer sinergia; entretanto, uma vez regenerados, o cooperar ativamente com a graça para as obras deve funcionar inevitavelmente, ocupando pleno vigor até a hora da glorificação. Não há nenhuma desculpa para negar as obras que a própria graça requer do eleito, a fim de que sua própria eleição seja sempre confirmada e a omissão sempre rejeitada, já que os que sabem que devem fazer o bem e não fazem imperam no pecado da omissão (2 Pe 1. 8-10; Tg 4. 17).

Fica sem expressão qualquer argumento que se utiliza da não operação do Espírito para validar a ausência das obras, posto que deve haver cooperação com a graça provedora (e não salvadora), se o assunto se refere aos feitos do eleito e salvo. O impulso e constante habitação do Espírito foi uma promessa que se ampliou à luz do Novo Testamento, não ignorando que os crentes da velha aliança também eram salvos pelos mesmos meios ordinários e imediatos da salvação. Ora, se é dito do Espírito como sempre habitando no crente, também deve ser destacado sua constante operação no crente. Mas é igualmente certo que o operar contínuo deve contar com a constante participação do agente livre, que somos nós, a fim de que o Espírito cumpra em nós e através de nós o restante da obra planejada por Deus para a efetivação dos seus planos, no que tem a ver com a nossa participação no que foi planejado.

Desta participação ativa, precisamos sempre levar em conta que a evangelização é uma delas. Nenhum anjo foi destacado e comissionada para esta obra, a não ser os agentes humanos restaurados. Levamos em conta que a dependência absoluta da alma no operar do Espírito, tanto o querer quanto o realizar, sgundo seu beneplácito (Fp 2. 13), não nos autoriza à inaptidão. Antes o Espírito trabalha nas consciências, usando a Palavra como meio, realizando sua obra através de nossas faculdades constitucionais da razão, da consciência e da vontade.

Certamente, não devemos ignorar os efeitos dinâmicos das boas obras na vida do crente que, além de manifestar a gratidão pela salvação prometida desde os tempos eternos, e alcançada na história de vida de cada convertido; também cumprem efeitos de plena necessidade, tais como o adorno do evangelho, a glorificação do Deus eterno, o exercício na fé e certeza do crente, a edificação dos irmãos, o fechar a boca dos incrédulos e a solidificação e consolidação da vida eterna. Todos estes são chamados de efeitos dinâmicos porque a própria boa obra é dinâmica em sua natureza. Dizia A. A. Hodge: "Deus aprova não é aquele que fica a esperar pela graça, mas sempre aquele que busca e pratica sua Palavra".